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Tone from the top: o exemplo que arrasta

Vanessa Klinczak, consultora da Titan Consulting e Flávia Malucelli, sócia da Titan Consulting | Tempo de leitura: 5 minutos | Atualizado em 26/02/2024

Você já deve ter ouvido falar que “a palavra convence, mas o exemplo arrasta”, não é mesmo? Essa célebre frase pode ser utilizada em todas as esferas de nossa vida e, especialmente, nos variados temas tratados por uma organização. Invariavelmente, o Compliance também se utiliza dessa máxima em sua estruturação, pilar que chamamos de “Tone from the top” (veja o diagrama abaixo). Tone from the top é uma expressão em inglês que significa “tom do topo” e que se refere ao compromisso da alta gestão de uma organização com os programas de integridade e o alinhamento de suas ações com os valores da empresa.

Sem o comprometimento dos altos executivos em promover uma cultura de integridade e sem uma liderança realmente engajada em agir em conformidade com as condutas declaradas como desejadas pela empresa, é improvável que os mecanismos e políticas de Compliance sejam aplicados de maneira eficaz. Quando a alta administração é diligente e demonstra um comprometimento forte com a conformidade, cria-se um ambiente propício para (i) a adesão às políticas e aos procedimentos estabelecidos, (ii) a detecção e reporte de possíveis violações, bem como para (iii) a evolução sustentável de uma cultura organizacional de integridade.

Ao promover uma cultura de transparência, integridade e responsabilidade, os líderes definem o que é aceitável e inaceitável em relação ao comportamento ético dentro da organização, orientando as ações de todos os colaboradores e promovendo a correta tomada de decisões. Porém, isso também vale para o outro lado da moeda. Quando os líderes adotam uma postura predatória, influenciam os membros da equipe a seguirem o mesmo caminho. Eles podem pressionar os colaboradores a atingirem resultados a qualquer custo, sem levar em consideração a ética ou o impacto negativo nas pessoas ou no meio ambiente, por mais que declarem que “todos os colaboradores devem agir de acordo com os valores da empresa”.

Brilhantemente, a professora Maria Cecilia Coutinho de Arruda traz à tona algo que chama de “cinismo organizacional”. Segundo ela “Um ambiente organizacional no qual existe dissonância entre o que se fala e o que se pratica, em termos de ética, leva os colaboradores a assumirem atitudes e comportamentos moralmente duvidosos. Essa condição pode gerar uma verdadeira espiral viciosa, podendo chegar a uma patologia organizacional.”¹.

Viu alguma relação? Ao comentar sobre erros e distorções do conceito de ética no artigo Ética para Inglês ver?, a professora retrata uma grave falha no “walk the talk” e no tom do topo. Assim, é importante destacar que o tone from the top não é apenas uma declaração de valores, mas deve ser acompanhado de ações concretas e exemplos visíveis por parte da liderança. A coerência entre as palavras e as ações é essencial para que esse tom seja percebido e assimilado por todos.

Entendido o que é “tone from the top” a pergunta que fica é: como fortalecer o tom do topo?

Existem algumas estratégias que podem ser aplicadas para esse objetivo. São elas:

  • Definir papéis e responsabilidades: apresentar aos líderes quais são seus papéis e responsabilidades em relação à temática Compliance, bem como o que se espera deles no dia a dia.
  • Criar rituais: ao definir papéis e responsabilidades, o próximo passo é estabelecer rituais para que esses líderes reforcem a temática de forma rotineira. Ex.: que tal iniciar as reuniões de time com uma provocação sobre integridade e valores da empresa?
  • Dar suporte: a depender da maturidade organizacional, é importante fornecer aos líderes recursos e suporte para auxiliá-los a cumprir suas responsabilidades de compliance – isso pode incluir orientação sobre políticas e procedimentos e canais de comunicação abertos para esclarecimento de dúvidas.
  • Investir em educação e treinamento dos líderes: ao utilizar métodos dinâmicos e interativos para sensibilizar e capacitar sobre os temas de compliance, e avaliar o impacto e a eficácia dessas ações – por meio de métricas e indicadores, é possível mensurar o nível de compreensão, a aplicação prática dos conhecimentos adquiridos pelos líderes e os resultados alcançados em termos de conformidade e ética organizacional.
  • Realizar testes de controle: monitorar o cumprimento dos objetivos de compliance pelos líderes, acompanhando de perto se as diretrizes e os rituais estabelecidos estão sendo seguidos. Os testes de controle visam não só verificar não conformidades, mas também indicar recomendações e sugestões de melhoria para correções de rota.
  • Aplicação adequada de Gestão de Consequências: a aplicação adequada de consequências e reconhecimentos é realizada de acordo com o desempenho e o comportamento dos líderes (e liderados) de uma companhia. Uma Gestão de Consequências apropriada significa recompensar, com base em parâmetros claros e conhecidos, aqueles que demonstram um bom cumprimento das normas e objetivos de compliance e aplicar medidas disciplinares a quem não esteja agindo em conformidade com tais diretrizes. Dessa forma, busca-se que todos os líderes sejam responsáveis e exemplares em relação ao cumprimento das regras e diretrizes da empresa.

Em conclusão, o tone from the top se apresenta como um pilar fundamental para o sucesso de uma organização. A liderança da empresa tem um papel crucial em estabelecer valores éticos, promover uma cultura de responsabilidade e estabelecer práticas de governança sólidas. Ao definir uma postura positiva e consistente desde o topo da hierarquia, a empresa pode influenciar positivamente a conduta de seus funcionários e estabelecer uma reputação de integridade e transparência.

¹ Maria Cecilia Coutinho de Arruda. Artigo Ética para Inglês ver?. Disponível em https://periodicos.fgv.br/gvexecutivo/article/view/34568/33373.  Acesso em 23 de fevereiro de 2024.

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